O Projeto “Ahititivi“, idealizado pelo aluno egresso Micas Silambo e pela Profa. Cláudia Cunha da Escola de Música da UFRN em 2018, foi um projeto vinculado ao mestrado de Micas sob orientação do Prof. Dr. Zilmar Rodrigues de Souza. Neste projeto, foi realizado um registro audiovisual de várias músicas no Estúdio Ritornello em Dezembro de 2018, sendo que 7 delas estão sendo disponibilizadas no Auditório Onofre Lopes Digital.
O Projeto Ahititivi tem como objetivos divulgar reflexivamente o repertório, línguas e instrumentos musicais tradicionais africanos, demonstrando suas potencialidades na quebra de barreiras raciais e culturais hegemônicas, entre outras, além de compreender os aspectos fundamentais que representam os sujeitos, características e processos que constituem a prática musical africana, bem como as inter-relações desses aspectos com as dimensões mais amplas dessa cultura musical.
O Projeto sintetiza uma série de línguas, costumes, comportamentos e rítmos tradicionais moçambicanos. Este projeto foi criado em 2018 na EMUFRN por um grupo de estudantes (africanos e brasileiros) e professores dessa instituição para promover a prática e reflexão sobre os processos performáticos das manifestações transmitidas, notadamente, por meio da oralidade.
Ahititivi é uma expressão que, no dialeto Xangana falado no sul de Moçambique, significa ‘não nos conhecemos’. A opção por essa designação para o grupo artístico deve-se ao fato de que o compositor principal do grupo recebeu influências de várias manifestações artísticas tradicionais (jogo, dança, música) que o possibilitaram uma hibridação rítmica, harmônica e cultural em suas composições autorais interpretadas pelo grupo.
Esta característica também está associada às influências linguísticas que este compositor vivenciou no sudeste de África, tais como Xangana, Ronga, Cistwa (Moçambique), Siswati (Swatini) e Zulu (África de Sul), Português e Inglês, do mesmo modo que Gitonga (Moçambique) e Swahili (Moçambique, Tanzânia). Línguas que escutava com certa frequência com alunos, amigos e colegas.
O registro audiovisual foi posteriormente utilizado em oficinas ministradas por Micas Silambo aos alunos do curso de Licenciatura em Música da EMUFRN.
Ritmos/danças usadas:
Marrabenta, Mutimba, Xigubo, Ngalanga, Makwaela, Makwaye e Timbila
Línguas usadas
Xangana – falada majoritariamente na região sul de Moçambique (predominante no CD).
Citswa – falada majoritariamente na região sul de Moçambique.
Swahili – falada numa parte da região norte de Moçambique e majoritariamente falada em Tanzânia.
Formação instrumental:
Mbira, Xighoviya, Violão, Flauta transversal, Teclado, Percussão, Baixo elétrico, Vozes.
Temáticas do repertório
Etnias e práticas culturais africanas[1]; desvalorização das culturas locais, instrumentos e músicas tradicionais africanas, crianças de rua, pobreza, comprometimento, sensibilização contra práticas maliciosas, relacionamentos, entre outras.
[1] O resumo das temáticas foi feita em português, mas todas as composições aplicam línguas típicas moçambicanas.
Repertório:
1. Kasi i Vana va mani? Piano,Violão, Baixo elétrico, Percussão, Sax, Voz.
Línguas: Xangana e Citswa
O título da composição Kasi i Vana va mani? É um questionamento que o compositor faz para ao mundo a respeito das crianças de rua – ‘Afinal de quem são as crianças da rua?’ Nesta música o compositor faz uma descrição de como vivem estas crianças, especificamente as da província de Maputo, capital de Moçambique.
2. Khatanga minou: Violão, Piano, Baixo elétrico, Percussão, Sax, Voz
Língua: Xangana
Khatanga significa ‘meu marido ou minha esposa’. Esta música apresenta uma fala indireta de situações que criam separação entre casais.
3. Bana Kulungwana: Piano, Baixo elétrico, Bateria, Sax, Voz
Língua: Xangana e Cistwa
Kulungwana lowupswa ou ‘novo grito’. É uma manifestação de alegria em relação às pessoas que efetuam uma viagem tranquila e no final gritam de alegria.
4. Phokotela: Mbira, Violão, Piano, Baixo elétrico, Percussão, Flauta, Voz
Língua: Xangana
Na composição Phokotela ou simplesmente ‘vamos aplaudir’, o compositor procura manifestar a sua alegria pelas pessoas que realizam ações cujos resultados alcançados são positivos. Nessa composição é destacado que as pessoas com seus objetivos bem-sucedidas merecem um prêmio, pois elas realizam um exercício bastante exigente.
5. Xirilo: Mbira, Violão, Baixo elétrico, Percussão, Sax, Voz
Língua: Xangana
Xirilo significa choro. Trata-se de uma palavra que o compositor utilizou para manifestar a sua indignação em relação a falta de ocasiões para abordagem e/ou realização de práticas tradicionais artísticas (dança, jogo, música, teatro). Esta composição questiona sobre o lugar que é ocupado pelos indivíduos que lidam com estas práticas.
6. Mufana lweyi: Mbira, Violão, Baixo elétrico, Bateria, Sax, Voz
Língua: Xangana
Mufana lweyi é uma expressão que o compositor usou para intitular uma música que fala de um homem (rapaz) que é rejeitado por falta de dinheiro. Nesta música o compositor procura destacar que, em muitos casos, a pessoa rejeitada é a que possui o amor profundo.
7. Mandhava-ndhava: Mbira, Violão, Piano, Baixo elétrico, Percussão, Sax, Voz.
Língua: Xangana.
Mandhava-ndhava é uma composição escrita por Lima Cumba. Nesta música Lima fala de uma doença que afeta as mulheres. Ele questiona o seguinte: se as mulheres estão acabando, devido a esta doença (Xikandzamento), quem irá gerar novos seres humanos?
Músicos:
Micas Silambo – Mbira, Piano, Voz
Cláudia Cunha – Voz
Anderson Pessoa – Sax
Dinei Teixeira – Percussão
Gabriel Garcia Maia – Violão
Davi Felipe – Baixo elétrico
Gravação de Áudio:
Paulo Dantas
Waldecio Silva
Mixagem:
Alexandre Maiorino
Micas Orlando Silambo
Nascido aos 12 de Abril de 1987 em Maputo, Moçambique. Iniciou os estudos em Educação Musical entre 2005 – 2006 pelo Instituto de Formação de Professor de Chibututuíne em Manhiça-Maputo, Moçambique. Licenciou-se em Música na Universidade Eduardo Mondlane em 2012 com enfâse em Piano erudito e Guitar jazz. Fez Mestrado em música na Universidade Federal do Rio Grande do Norte em 2018, na Área de Processos e Dimensões de Formação em Música. Atua em vários níveis de ensino privado e público de Moçambique, incluindo ensino primário (EPC Cassimatis, EPC de Chigubuta, Willow International School-Maputo), técnico profissional (Instituto de Formação de Professor de Chibututuíne) e no ensino superior (Universidade Eduardo Mondlane). Atualmente realiza a Pós-Graduação em música (doutorado) na Universidade Federal do Paraíba na Área de Musicologia/Etnomusicologia. A atuação em pesquisa está voltada para o estudo de instrumentos musicais tradicionais africanos, envolvendo a sua performance, transmissão, organologia, transformação histórica, fabricação, técnica de execução, bem como o seu repertório e seus sujeitos fazedores.
6 comments
Excelente trabalho,estamos todos de parabéns por termos cruzado seu caminho Dr Micas, contigo aprendemos muito como colegas , quero lhe parabenizar e dar vos muita força neste projeto e que tudo corra bastante bem e que a benção de Deus se manifeste em todas vossas ações,tem um grupo excelente, sinto que há um trabalho em equipe pois os resultados falam por si,muita força abraços fraternais.
Teacher gostei do trabalho, fiquei maravilhado e motivado com sua entrega, isso é um projeto grande, que ainda vai longe. You know this is opportunity to many people knows African culture. May God bless you and all guys.
Lindo !
Achei maravilhoso! Parabéns ao grupo!
Muitas palavras tiraria como exteriorizacao do sentimento de alegria e orgulho por si Micas e pelo grupo. Essas palavras no fim resumiriam-se em dizer ” PARABENS, FORCA”; que Deus e todos seus acestrais estejam consigo e a favor de tudo de bom que faze. Faca valer a sua sorte e dedicacao!
Meu ilustre colega você é um exemplo que qualquer indivíduo deve seguir.
A sua entrega e dedicação é prova de que a aprendizagem e aquisição de conhecimentos é algo que deve ser cultivado sistematicamente.
As suas obras transmite uma inspiração e motiva qualquer indivíduo que quer efectivamente seguir em frente. Muita força na aprendizagem e aprimore cada vez mais o conhecimento para que possa orientar aos outros que com muita certeza estão a espera, seja na ECA-UEM, seja nas Primárias onde passou!
Muitos sucessos e bom desenvolvimento na sua Carreira profissional Msc. Micas Orlando Silambo.